Demanda por areia usada na construção civil já chega a 50 bilhões de toneladas por ano e segue crescendo. Apesar da abundância em praias e desertos, esse tipo de areia não serve para concreto. O risco de escassez já é real em diversos países.
A construção civil está diante de um problema inesperado, e que a maioria das pessoas nem imagina: a areia está acabando. Isso mesmo. Um recurso que parece infinito à primeira vista, por estar em praias, rios e desertos, já enfrenta escassez real em várias partes do planeta, afetando diretamente a produção de concreto e estruturas modernas.
Segundo a ONU e estudos da ScienceDirect, mais de 50 bilhões de toneladas de areia são consumidas por ano em obras de infraestrutura, estradas, pontes e edifícios. Só que nem toda areia serve. A maioria das pessoas pensa que seria fácil pegar areia do mar ou do deserto, mas a verdade é que essas opções estão longe de serem ideais, e podem até destruir construções.
Por que a areia do mar e a do deserto não funcionam?
No final dos anos 1990, um caso no Brasil ganhou as manchetes: o colapso do Edifício Palace 2, no Rio de Janeiro. Surgiram boatos de que a construção usava areia do mar, o que depois foi desmentido. Mas o alerta ficou. O uso desse tipo de areia realmente pode causar graves falhas estruturais.
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O problema principal está na presença de sal (cloreto de sódio). Esse sal acelera a corrosão das armaduras de aço dentro do concreto. Para se ter ideia, o contato com água salgada acelera em até 5 vezes a corrosão, e o ar salino pode corroer até 10 vezes mais rápido do que o ar seco.
Já a areia do deserto, apesar de ter baixo teor de sal, sofre com outro problema: o formato dos grãos. Como são moldados pelo vento ao longo de milhões de anos, eles ficam extremamente arredondados e lisos. O resultado? Eles não aderem bem à pasta de cimento, o que provoca fragilidade, fissuras e baixa resistência no concreto.
E de onde vem a areia usada nas obras?
A areia que usamos na construção normalmente vem de jazidas de rios, lagos e margens de várzeas. São grãos mais novos, com formas irregulares e cheias de arestas. Esse formato faz com que a areia se agarre melhor à mistura de cimento, criando um concreto mais estável e durável.
O problema é que essas jazidas estão ficando cada vez mais escassas. A extração excessiva compromete o meio ambiente e aumenta os custos de transporte. Em cidades como São Paulo, por exemplo, o preço do metro cúbico de areia já supera o da brita em alguns locais, chegando a R$ 60 por m³.
A demanda não para de crescer
Com o avanço da urbanização global, o consumo de areia está explodindo. África Ocidental e Oriental devem registrar um crescimento de até 500% na demanda até 2060, segundo relatórios de mineração. E se nada for feito, a construção de casas, estradas e até escolas pode ficar inviável em muitas regiões.
No Brasil, em 2022, foram produzidas 374 milhões de toneladas de areia para construção, o que mostra a pressão crescente sobre esse insumo essencial.
Alternativas sustentáveis e o futuro da construção
Diante da crise de escassez, cresce o interesse por soluções como o reaproveitamento de entulho de obras demolidas. Com uso de tecnologias de trituração e purificação, esse material pode ser reciclado e transformado em areia artificial, que pode ser usada em novas obras com menor impacto ambiental.
Especialistas apontam que a chave para o futuro está em um mix de soluções: mais controle na extração, novas tecnologias, uso consciente dos materiais e avanço das técnicas de construção sustentável.